terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lenda do Lobisomem

Meris me deu as ervas que sabia
Os venenos de que ponto abundava
Com eles ele lobo se fazia
Nos matos invisível se ocultava
Virgílio





Lobisomens na História:

Werewolfs, Lupo mannaro, hamramr, loup-garou, obototen, vukodlack, hombre lobo, lobisomem. Muitos são os nomes pelas quais são conhecidas essas criaturas, cuja lenda se espalhou pelo globo. O mito dos lobisomens é vasto, englobando desde a Lua cheia até balas de prata, estrelas de cinco pontas, velas, Salomão, rituais, acônitos, entre outros objetos e situações diretamente ligados a transformação de pessoas em animais, e devidamente unidos a esses seres no imaginário popular, através de filmes, livros, jogos, entre outras mídias. Mas, por detrás de toda a aura clássica de gigantescos e sanguinários lobos uivando para a luz da lua, algumas perguntas restam. De onde vieram os lobisomens? Por que caçam humanos? Como uma pessoa aparentemente normal pode se transformar numa fera sanguinária?

Indo até a origem, os lobisomens pertencem a uma classe de seres conhecidos como metamorfos, ou seja, com o dom de mudar sua forma. Histórias de humanos que assumem formas de animais e vice-versa são clássicos de mitologias e lendas mundiais. De homens-jaguares a homens-corvos, homens-coiotes, xamãs que se transformam em aves para visitar os deuses. Aqui mesmo no Brasil, lendas de cobras e outros seres que podem assumir a forma humana para seduzir pessoas e assim atraí-las para a morte é comum nas lendas indígenas. No Japão e na China, relatos de criaturas como raposas ou tigres que se transformam em belas moças para se alimentar do sangue dos homens também é um mito conhecido.

Referências a pessoas se tornando lobos foram primeiro atribuídas aos deuses. A deusa babilônica Ishtar foi recusada por Gilgamesh em sua famosa epopéia por sua crueldade com antigos amantes, incluindo um pastor que ela transformou em lobo. Na Grécia antiga, o rei Licaón tornou-se conhecido por servir aos deuses um jantar em sua casa, tendo a carne de seu próprio filho como prato principal. Ao perceberem o estratagema, os deuses se revoltaram, e Zeus, furioso, transformou Licaón em um lobo como castigo. Do nome desse rei se originaram palavras como licantropo, sinônimo de lobisomem, e licantropia, doença mental em que realmente se acredita que a pessoa tornou-se um animal.

Ao longo da história, a crença em lobisomens se tornou comum. O naturalista Plínio, o velho, está entre os escritores que escreveu sobre esses seres como se fossem reais. A história continuou viva na idade média, especialmente em lugares onde o problema com lobos era realmente sério, como Alemanha e França. Quando começou a histeria da caça as bruxas, os lobisomens foram atribuídos à bruxaria, como magos que faziam pactos com o Diabo e usavam ungüentos, acessórios e feitiços para se transformarem em lobos e dar vazão a sua sede de sangue. Milhares de pessoas foram torturadas e mortas sob a acusação de serem lobisomens. Os inquisidores chegavam a arrancar a pele dos acusados, pois se acreditava que os licantropos escondiam seus pelos de lobo por debaixo de sua pele humana.

Muitas pessoas foram condenadas por terem características que realmente corroboravam com as lendas. Pessoas com a já citada licantropia, ou portadores de duas outras síndromes: a porfiria e a hipertricose. A hipertricose é um aumento alarmante dos pelos, que em vários casos chegam a cobrir quase todo o corpo. Um exemplo de pessoas com essa doença são Pedro González e sua filha Antonietta. Apesar de sua notável inteligência, Pedro era exibido como atração em festas, e levado para aulas como objeto de estudo.

 


A porfiria é uma doença que produz alguns dos sinais atribuídos aos lobisomens. Seus portadores têm intensa sensibilidade à luz, preferindo sair à noite. Ao avançar, a doença também produz feridas na pele, que podem se interpretadas como causadas por galhos ao se andar por uma floresta fechada. Além disso, essa enfermidade faz dentes e unhas se tornarem vermelhos, como se seus portadores tivessem devorado uma refeição sangrenta.


Como reconhecer um lobisomem:

Lendas de diferentes lugares contam maneiras de como se reconhecer um lobisomem quando ainda está em forma humana, e por isso bem menos perigoso do que transformado. Essas são as características mais conhecidas:
- Unhas compridas e recurvadas
- Aparência doente e fraca, quase cadavérica
- Magreza excessiva
- Sobrancelhas grossas e que se encontram no meio
- Dedo anular do mesmo tamanho que o dedo médio
- Orelhas pequenas e pontudas
- Hábito de sair a noite, especialmente nas noites de quinta-feira, e voltando apenas de manhã cedo
- Pelagem do lado de dentro da pele
- Pelos excessivos nos pés e a presença de pelos na palma da mão (Esse último também serve para identificar vampiros, segundo algumas histórias)
- Sonolência, movimentos vagarosos


Transformações, Obrigações e Maldições:

Com a passagem do tempo, os lobisomens foram relegados definitivamente à imaginação. Foi o filme “O Homem-Lobo” que, assim como Drácula marcou para sempre o mundo dos vampiros, marcou para sempre o mundo dos lobisomens. Transformações à Lua cheia, balas de prata, a maldição incurável e o destino cruel que se tornaram características conhecidas dos licantropos foram introduzidas por este filme, que se baseou em várias lendas para chegar à sua versão.

Há outras formas de se tornar um lobisomem além da transformação clássica. No Brasil, praticamente cada região possui um jeito diferente de explicar como os lobisomens surgem. Um menino nascido após sete meninas, o oitavo filho de uma sucessão de crianças do mesmo sexo, uma pessoa mordida pelo lobo. Para transfomar-se, ele deve ir até uma encruzilhada à meia noite da sexta feira, ou se espojar onde um jumento se espojou, ou mesmo rolar em excremento de um animal, sem roupas. Homens e mulheres negros transformam-se em lobisomens de pelo branco. Homens e mulheres brancos se transformam em lobisomens de pelo negro.

Uma vez transformado, o lobo pode sair devorando pessoas, ou assustando galinhas, ou comendo porcarias. Alguns lobisomens, porém, tem a obrigação de percorrer sete encruzilhadas, sete igrejas, sete cidades ou sete castelos, antes de retornar ao seu local de transformação para voltar a ser gente. Algumas lendas dizem que ele deve percorrer apenas um desses lugares; outras dizem que devem ser todos estes. Para cumprir a obrigação (ou fado em Portugal), é atribuída aos lobisomens uma tremenda velocidade, tão grande que eles mal podem ser vistos. A única pista de sua presença é o som das grandes orelhas se mexendo ao vento, ou seu uivo assustador.

Os lobisomens, porém, nem sempre eram lobos. Segundo tradições portuguesas, a pessoa que se tornasse lobisomem, na verdade, se transformaria no primeiro rastro de animal que encontrasse. Poderia tornar-se um burro, um porco, um boi, ou mesmo um lobo.

E como quebrar a maldição? Para isso também existem várias maneiras. Uma bala de prata, ou uma bala besuntada na cera de uma vela que participou de três missas do Galo; furar o dedo mindinho do lobo a ponto de sair sangue; matar o licantropo que o originou, em caso de contaminação por mordida; fazê-lo vestir as roupas ao avesso; ou mesmo comprar-lhe roupas novas e queimar as antigas. Em algumas lendas, incluindo a mais vista no cinema, a maldição não pode ser quebrada. A pessoa amaldiçoada terá que viver com suas transformações até o final da vida, normalmente curta por esse exato motivo.

Alguns lobisomens não são pessoas que se transformam em lobos. Na África, há lendas sobre uma pessoa que enquanto dorme possui o corpo de um lobo e sai provocando o terror. Se o lobo for morto, a pessoa cujo espírito estava no corpo do lobo acorda e morre. Caso sejam feitos ferimentos no lobo, os mesmo ferimentos aparecerão na pessoa quando ela acordar.




Rivalidade com Vampiros:

Apesar de documentada em obras como Underworld (Anjos da Noite) e Crepúsculo, a rivalidade entre vampiros e lobisomens não tem respaldo na lenda. Os únicos mitos que envolvem essas duas raças sugerem que lobisomens que não receberem o tratamento adequado após a morte (a decapitação ou cremação) poderão se transformar em lobos vampiros, que rondam os campos de batalha para beber o sangue dos mortos e feridos. O fato de as lendas vampíricas também afirmarem que vampiros podem se transformar em lobos pode causar uma leve confusão entre essas lendas, mas há uma clara diferença entre os dois monstros: Lobisomens estão vivos, e os vampiros não. Aparentemente, a dita raiva mútua entre esses seres é apenas uma invenção de diretores e escritores.


Supostos ataques de Lobisomens:

A Besta de Gévaudan: Uma criatura, supostamente um lobisomem, que atacou pessoas na província de Gévaudan na França entre os anos de 1764 a 1767. O número de vítimas é estimado em 120 pessoas, entre mortos e feridos. Em 1765, o rei Luís XV, que havia tido especial interesse nos ataques, mandou um de seus mosqueteiros, François Antoine, para caçar a fera. Antoine voltou com um enorme lobo morto, mas os ataques continuaram e foram atribuídos a uma segunda fera. Em 1767, a segunda besta foi morta por Jean Chastel, caçador local. Posteriormente, romancistas criaram a versão de que Chastel matou a criatura com uma bala de prata. Quando o estômago do animal foi aberto, encontraram-se restos humanos dentro dele.

O lobo de Magdeburg: Um conto folclórico da cidade de Magdeburg, na Alemanha. Conta-se de um inverno extremamente cruel, no qual crianças começaram a desaparecer. Pegadas mostravam que o culpado era um lobo, estranhamente solitário e silencioso. Apesar de patrulhas terem sido organizadas pelas ruas, não puderam parar os ataques. Segundo o conto, um juiz local foi guiado por uma mulher que havia enlouquecido após o desaparecimento de seu filho até o covil de um gigantesco lobo. O lobo matou a mulher, mas foi morto pelo juiz. Após a morte, o corpo do lobo supostamente transformou-se no da esposa do magistrado, e os ataques pararam.

O Julgamento de Hans: Alegadamente um bruxo e lobisomem, um jovem estoniano de 18 anos chamado Hans foi condenado à morte pelo crime de bruxaria. Segundo o próprio Hans, réu confesso, ele tinha ganhado o corpo de um lobo de um “homem de preto”, supostamente o diabo. Hans também mostrou ao tribunal marcas de mordida que teriam sido feitas por um cachorro que o mordeu quando ele estava em forma de lobo. Quando os jurados perguntaram se, sob a forma de lobo, ele se sentia humano ou animal, o acusado respondeu que se sentia como um animal selvagem.

Lobisomem Brasileiro: Em 13 de Fevereiro de 2009, na cidade de São Sepé (RS), uma jovem brasileira chamada Kelly Martins Becker alega ter sido atacada por um lobisomem. Em 28 de Janeiro, ela foi atacada por uma criatura que descreve como sendo um cachorro grande que andava em duas pernas. Ela incluvise fez um desenho de seu atacante e mostrou à polícia. Kelly teve seu rosto e braços arranhados, ferimentos que foram confirmados por exames de corpo de delito. Os policiais tentaram investigar, sem sucesso, sobre alguém que estivesse se vestindo de lobisomem para assustar as pessoas do lugar. O caso até hoje não foi resolvido.

As lendas sobre criaturas que se transformam em lobos permeiam lendas e mitos no mundo todo. A possibilidade de mudar de forma, e desse jeito, não ser reconhecido, sempre instigou a imaginação humana. Esses seres podem muito representar o perigo, o instinto, que sempre permeou a nossa mente. E lá no fundo, os lobisomens nos mostram o quão perigoso pode ser ceder ao lado mais animal do ser humano...




1 comentários:

Unknown disse...

Muito interessante as suas postagens ,a partir de hoje um passa tempo diário, está de parabéns. 😉

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