segunda-feira, 7 de março de 2011

Wicca

Wicca é uma religião neo-pagã influenciada por crenças pré Cristãs e práticas da Europa ocidental que afirma a existência do poder sobrenatural (como a magia) e os princípios físico e espirituais masculino e feminino que inteiram a natureza e que celebra os ciclos da vida e os festivais sazonais, conhecidos como Sabbats, dos quais ocorrem, normalmente, oito vezes por ano. É muitas vezes referida como Witchcraft (bruxaria) ou the Craft pelos seus seguidores, que são conhecidos como Wiccanos ou Bruxos. As suas origens contestadas residem na Inglaterra no início do século XX mas foi popularizada nos anos 50 por Gerald Gardner, que na época chamava a religião de "culto às bruxas" e "bruxaria" e os seus seguidores "a Wica". A partir dos anos 60 o seu nome foi normalizado para "Wicca". A Wicca é uma religião duoteística que crê tradicionalmente na Mãe tríplice e no Deus Cornífero. Estas duas deidades são muitas vezes vistas como facetas de uma divindade panteísta maior ou que se manifestam como várias divindades politeístas. A Wicca também envolve a prática ritual da mágica, em grande parte influenciada pela magia cerimonial do passado, muitas vezes em conjunto com um código de moralidade liberal conhecida como a Wiccan Rede, embora não seja uma regra. Embora adorem o celta Cernunnos, símbolo da virilidade e por vezes seja confundida com Satanismo, os wiccanos não crêem em Lúcifer ou em Satã. Existem diversas tradições distintas dentro da Wicca. Algumas, como a Wicca Gardneriana e a Alexandrina, seguem a linhagem iniciática de Gardner; ambas são frequentemente denominadas de wicca tradicional britânica e muitos dos seus praticantes consideram que o termo "Wicca" possa ser aplicado unicamente a elas. Outras, como o cochranianismo, Feri e a Tradição Diânica, tomam como principal influência outras figuras e não insistem em qualquer tipo de linhagem iniciática. Alguns destes não usam o termo "Wicca", preferindo "Feitiçaria" ou mesmo "Bruxaria", enquanto outros crêem que todas estas tradições podem ser consideradas wiccanas.

Origem e crescimento, 1921-1959

Desde meados do século 20, a Bruxaria tornou-se a auto-designação de uma sucursal do neopaganismo, especialmente na tradição Wicca, cujo pioneiro foi Gerald Gardner, que alega resgatar uma antiga tradição religiosa da bruxaria com raízes pré-cristãs. Na década de 1920 e na década de 1930, a egiptóloga Dr. Margaret Murray publicou diversos livros influentes detalhando as suas teorias de que as bruxas e bruxos caçados durante a Idade Média não eram, como alegavam seus perseguidores cristãos, adeptas do Satanismo, mas simpatizantes de uma religião pagã pré-cristã que adorava um deus cornífero — o Culto Bruxo. Antes de Murray, nomes como Girolamo Tartarotti, Matilda Joslyn Gage, Jacob Grimm, Karl Pearson, Jules Michelet e Charles Leland já escreviam linhas ou livros inteiros sobre o contraste entre as duas religiões da Idade Média e Renascimento. Embora nos dias de hoje a pesquisa histórica aprofundada tem desacreditado de Murray, as suas teorias foram amplamente aceitas e apoiadas na época. Nos anos 30, apareceu a primeira evidência de uma prática pagã de religião de bruxaria (o que hoje é reconhecida como Wicca) na Inglaterra. Diversos grupos em todo o país, em lugares como Norfolk, e Cheshire se auto-proclamaram continuadores da tradição do Culto Bruxo de Murray, embora estivessem abertos a influências de diversas outras fontes, tais como a Magia Cerimonial, a Maçonaria, a Teosofia, o Romantismo, o Druidismo, a mitologia clássica e as religiões asiáticas. A Bruxaria tornou-se mais proeminente, contudo, na década de 1950 com a revogação da Lei de Feitiçaria de 1735, ao qual diversas figuras, como Charles Cardell, Cecil Williamson e notavelmente Gerald Gardner, começaram a propagar suas próprias versões do ofício. A sua tradição, auxiliada por sua Alta Sacerdotisa Doreen Valiente e com a publicação de seus livros A Bruxaria Hoje (1954) e O Sentido da Bruxaria (1959), logo se tornou a tradição dominante no país e se espalhou para outras regiões das Ilhas Britânicas

Adaptação e propagação, 1960-actual

Com a morte de Gardner em 1964, o Ofício continuou a crescer inabalável apesar do sensacionalismo e das opiniões negativas publicadas pelos tablóides britânicos, com novas tradições propagadas por figuras como Robert Cochrane, Sybil Leek e Alex Sanders, criador da Tradição Alexandrina, que, baseada no Garderianismo, embora com uma ênfase na magia cerimonial, espalhou-se rapidamente e ganhou muita atenção da mídia. Nesta época, o termo "Wicca" começou a ser adoptado ao lado de "Bruxaria" e as suas crenças e tradições exportadas para países como Austrália e os Estados Unidos. Foi nos Estados Unidos e na Austrália que novas tradições da Wicca surgiram, muitas vezes baseada em folk regionais e às vezes misturadas com a estrutura básica da Wicca de Gardner, gerando diversas formas de Wicca como o Dianismo de Zsuzsanna Budapest, cada uma delas enfatizando diferentes aspectos do ofício. Na década de 1970, a literatura Wicca também cresceu e muitos livros ensinando pessoas a se tornarem bruxos sem iniciações formais começaram a ser publicados em grandes quantidades pelo mundo, como o Mastering Witchcraft (1970) de Paul Huson. Livros da mesma ordem continuaram a ser publicados através dos anos 80 e anos 90, alimentados pelas escrita de autores como Doreen Valiente, Janet Farrar, Stewart Farrar e Scott Cunningham, que popularizou a ideia de auto-iniciação ao Ofício. O primeiro livro traduzido do inglês para o português trazendo o termo wiccaniano(a) foi Wicca: A Feitiçaria Moderna, de Gerina Dunwich. Posteriormente, outros livros traduzidos passaram a apresentar o termo "wiccano" como uma alternativa para a palavra inglesa "wiccan", termo usual para designar um adepto da religião em questão naquele idioma.

Demografia

Não é sabido oficialmente o número de wiccanos no mundo inteiro e constatou-se que é mais difícil estabelecer o número de membros de religiões neo-pagãs do que de qualquer outra religião devido à sua estrutura desorganizada. O site independente Adherents.com, no entanto, que se dedica a informar demografias religiosas pelo mundo. A partir daí, eles desenvolveram uma estimativa média de 800 mil membros. Comparando o número de adeptos estado-unidenses na década de 1990 até 2001, houve um aumento de cerca de 126.000 membros. De maneira curiosa, 1.434 pilotos da Força Aérea dos Estados Unidos se identificam como wiccanos, tornando a Wicca a maior religião não-cristã dentro dessa comunidade. No Reino Unido, por sua vez, os censos não permitem uma separação dentro do contexto pagão, fazendo com que os wiccanos sejam marcados ao lado de outras tradições neo-pagãs como a dos druidas e dos heathens através de um acordo em comum marcado em 2001. Pela primeira vez, os entrevistados foram capazes de escrever numa afiliação não abrangidos pela lista comum das religiões e um total de 42.262 pessoas da Inglaterra, Escócia e País de Gales se declararam pagãos por este método. Estes valores não foram imediatamente analisados pelo Instituto Nacional de Estatística, mas foram liberados após um pedido da Federação Pagã da Escócia.

Crenças

As crenças Wicca variam muito entre as diferentes tradições. No entanto, existem vários pontos em comum entre esses diferentes grupos, que geralmente incluem pontos de vista sobre teologia, vida após a morte, magia e moralidade.

Teologia

Embora as opiniões sobre a teologia Wicca sejam numerosas e variadas, a grande maioria dos Wiccanos veneram tanto um Deus quanto uma Deusa. Essas duas divindades estão entendidas de várias formas através dos quadros de panteísmo, duoteísmo ou o politeísmo. Em algumas concepções panteístas e duoteísticas, divindades de diferentes culturas podem ser vistas como aspectos da Deusa ou do Deus. No entanto, existem também outros pontos de vista teológicos a serem encontrados dentro da Bruxaria, incluindo o monoteísmo, o conceito de que há apenas um divindade, que é visto por alguns, como no Dianismo, como a Deusa. Existem outros Wiccanos que são ateus ou agnósticos, que não acreditam em qualquer divindade real, mas vêem os deuses como arquétipos psicológicos da mente humana que podem ser evocados e interagidos.

O Deus e a Deusa

Para a maioria dos Wiccanos, o Deus e Deusa são vistos como polaridades complementares no universo, existindo um equilíbrio entre um e outro e desta forma têm sido comparados com o conceito de yin e yang, encontrado no Taoísmo. Como tal, são muitas vezes interpretados como sendo "encarnações de uma força de vida manifesta na natureza", com alguns Wiccanos acreditam que eles são simplesmente símbolos dessas polaridades, enquanto outros acreditam que o Deus e a Deusa são seres verdadeiros que existem de forma independente. Às duas divindades são dadas frequentemente associações simbólicas, com a Deusa comummente sendo simbolizado como a Terra (a Mãe Terra), mas também às vezes como a Lua, a qual complementa o Deus, visto como o Sol. Tradicionalmente, o Deus é visto como um Deus Cornífero, associado com a natureza selvagem, a sexualidade, a caça e o ciclo de vida. Ao Deus Cornífero é dado vários nomes de acordo com a tradição e estas incluem Cernunnos, Pã, Atho e Karnayna. Embora este valor não seja igualado com a figura tradicional de Satã, que é visto como sendo uma entidade dedicada ao mal no cristianismo, uma pequena minoria de Wiccanos, de acordo com as acusações dos julgamentos históricos de bruxas, referem-se a seu Deus Cornífero com alguns dos nomes de Satanás, como "Diabo" ou como "Lúcifer", um termo latino que significa "portador da luz". Em outras ocasiões, o Deus é visto como o Homem verde, uma figura tradicional na arte e da arquitectura europeia e muitas vezes interpretado como sendo associado com o mundo natural. O Deus é frequentemente descrito como um Deus Sol, em especial no festival de Litha, ou o solstício de verão. A Deusa é geralmente retratada como uma Deusa tríplice, sendo assim uma divindade triádica composta de uma deusa virgem, uma deusa-mãe e uma deusa anciã, cada um dos quais tem associações diferentes, ou seja, a virgindade, a fertilidade e a sabedoria. Ela também é comummente descrita como uma Deusa Lua, e muitas vezes é dado o nome de Diana após a divindade romana. Alguns wiccanos, especialmente a partir da década de 1970, têm visto a Deusa como a mais importante das duas divindades, que é pré-eminente de que ela contém e concebe tudo. A este respeito, o Deus é visto como a centelha de vida e inspiração dentro dela, ao mesmo tempo o seu amante e o seu filho. Uma forma monoteísta da Wicca, o Dianismo, a Deusa é a divindade única, um conceito que tem sido criticado por membros de outras tradições mais igualitárias. O conceito de ter uma religião e venerar um Deus Cornífero acompanhado de uma Deusa tinha sido elaborado pela egiptóloga Margaret Murray durante a década de 1920. Ela acreditava que, com base nas suas próprias teorias sobre os primeiros ensaios da bruxaria moderna na Europa, que essas duas divindades, mas principalmente o Deus Cornífero, tinha sido adorado por um culto bruxo, desde que a Europa Ocidental sucumbiu ao cristianismo. Embora amplamente desacreditada, Gerald Gardner foi um defensor da sua teoria e acreditava que a Wicca foi uma continuação do histórico culto bruxo e do Deus Cornífero e da Deusa, eram, portanto, antigas divindades das ilhas britânicas.

Panteísmo, Politeísmo, Animismo

Existem muitos adeptos da Wicca que acreditam que a Deusa e o Deus são meramente dois aspectos dmesma Deidade, às vezes vista como uma deidade panteística, abrangendo, assim, tudo o que existe no Universo. Assim como o panteísmo e o duoteísmo, muitos adeptos da Wicca são politeístas, acreditando, assim, que existem diversos deuses existentes. Alguns aceitam a ideia expressa pelo ocultista Dion Fortune de que "todos os deuses são um deus, e todas as deusas são uma deusa". Com tal mentalidade, um wiccano pode crer que a germânica Eostre, a hindu Kali, e a cristã Virgem Maria são manifestações de uma Deusa Suprema e, da mesma forma, que o celta Cernunnos, o grego Dionísio e o judaico-cristão Yahweh são aspectos de um mesmo Deus Supremo. Numa abordagem estritamente mais antiga da crença politeísta, os deuses e deusas, são no seu próprio direito, criaturas distintas umas das outras, não sendo, assim, aspectos nem elementos de uma outra "entidade maior". Outros wiccanos concebem as deidades não como personalidades literais mas como arquétipos metafóricos ou uma tulpa, fazendo com que estes sejam decididamente adeptos do ateísmo. Essa visão foi adoptada pela Alta Sacerdotiza Vivianne Crowley, que também era psicóloga, e que considerava as divindades da Wicca como arquétipos Junguianos que existem no subconsciente e que poderiam ser evocados através dos rituais. Por esta razão, Crowley dizia que "A Deusa e o Deus se manifestam para nós em sonho e em visão." A Wicca é, essencialmente, uma religião imanente, e para grande parte dos wiccanos esta ideia também envolve elementos do animismo. Esta crença diz que a Deusa e o Deus (ou os deuses e as deusas) são capazes de se manifestarem fisicamente, na forma de uma pessoa, ao vivo, sobretudo nos corpos do Sacerdote e da Sacerdotiza, para fornecerem uma mensagem espiritual directa aos integrantes do ritual.

Vida após a morte

Os rituais wiccanos contém elementos das lendas de Istar (a virgem-mãe da Babilónia, conhecida, também, por Astarte e Cibele) e de Demeter (a Ceres romana); tais lendas são interpretadas como um símbolo contínuo de morte e ressurreição. Porém, a crença na reencarnação varia entre os wiccanos, embora ela tivesse sido tradicionalmente ensinada na década de 1930 nos New Forest coven. O influente Alto Sacerdote Raymond Buckland escreveu que uma alma humana reencarna nas mesmas espécies durante muitas vidas para aprender lições e progredir espiritualmente, mas essa crença não é universal no mundo da Wicca, uma vez que outros acreditam que a reencarnação da alma acontece em espécies distintas. Contudo, um ditado popular entre os wiccanos é que "uma vez bruxo, sempre bruxo", indicando que os wiccanos são reencarnações de bruxas do passado. Os wiccanos que crêem em reencarnação acreditam que as almas vivem entre o Outro Mundo e a Terra de Verão, conhecida nas escritas de Gardner como o "êxtase da Deusa". Da mesma forma, estes wiccanos acham ser possível se comunicarem com espíritos que residem no Outro Mundo através da mediunidade ou do tabuleiro ouija, principalmente durante o Sabbat de Samhain, embora alguns discordem com esta prática, como o Alto Sacerdote Alex Sanders, que dizia "estão mortos; deixai-os em paz." No entanto, a crença do contacto foi muito influenciada pelo Espiritualismo, que estava popular na época do surgimento da Wicca, e na qual Gardner e outros wiccanos como Buckland e Sanders tiveram experiências directas. Apesar de alguns wiccanos acreditarem na vida após a morte, este não é o principal foco da Wicca, nem mesmo para estes grupos.

Magia

Boa parte dos wiccanos crê na magia — uma força que eles vêem como sendo capazes de manipulação através da prática de bruxaria ou feitiçaria. Alguns a denominam "magick", variação cunhada pelo influente ocultista Aleister Crowley, embora esta grafia seja mais comummente associada com a religião da Thelema de Crowley do que com a Wicca. De fato, muitos wiccanos concordam com a definição de magia oferecida pelos mágicos cerimoniais, como Aleister Crowley, que declarava que a magia é "a ciência e a arte de provocar mudança de ocorrência em conformidade com a vontade", enquanto que, outro mágico cerimonial proeminente, MacGregor Mathers, afirmou que era "a ciência do controle das forças secretas da natureza." Os wiccanos também acreditam que a magia é a lei da natureza ainda incompreendida ou ignorada pela ciência contemporânea, e, como tal, não a vêem como sendo sobrenatural, mas sendo uma parte dos "super poderes que residem no natural", como escrevia Leo Martello. Alguns adeptos da Wicca preferem acreditar que a magia é fazer pleno uso dos cinco sentidos a fim de se obter resultados surpreendentes, ao passo que outros wiccanos não pretendem saber como ela funciona, apenas acreditando que ela funciona. Os feitiços da Wicca são realizados durante as práticas rituais, na tentativa de provocar mudanças reais no mundo físico. Assim, os feitiços da Wicca geralmente são usados para a cura, a protecção, o banimento de influências negativas e, principalmente, a fertilidade. Os pioneiros da Wicca, Alex Sanders, Sybil Leek e Doreen Valiente, chamavam as suas práticas de "magia branca", para separá-la da "magia negra", que é associada ao mal e ao Satanismo e é usada contra um objecto, uma pessoa, um lugar. Sanders também utilizava a terminologia "Caminho da Mão Esquerda" para descrever a magia maléfica e "Caminho da Mão Direita" para descrever a magia realizada com boas intenções; terminologia esta que teve sua origem com a ocultista Madame Blavatsky no século XIX. Alguns wiccanos, contudo, alegam que a cor negra não é necessariamente uma associação ao Mal. A magia na Wicca define-se como a arte de enviar consciência a vontade, em ocasiões rescaldando estes pensamentos ou está fé com objectos como velas, talismãs, ou ervas que representem a intenção do Mago Wicca. Símbolos, cores, artefactos, o círculo, movimentos, música e mantras fazem parte do conjunto fundamental de elementos na magia wicca a fim de se obter o efeito procurado, que varia de grupo a grupo.

Moralidade

Não existe nenhum dogma moral ou código ético universalmente seguido pelos wiccanos de todas as tradições, no entanto a maioria segue um código conhecido como a Wiccan Rede que afirma "sem ninguém prejudicar faça o que tu quiseres". Geralmente, essa frase é interpretada como uma declaração de liberdade para actuar na vida, juntamente com a necessidade de assumir a responsabilidade por aquilo que resulta de nossas acções e minimiza danos a si mesmo e aos outros. Outro elemento típico da moralidade wiccana é a Lei Tríplice que diz que qualquer acção malévola ou benéfica retornará ao autor três vezes mais forte, ou com igual força a nível do corpo, da mente e do espírito. Tanto a Rede como a Lei Tríplice foram introduzidas no Ofício por Gerald Gardner e posteriormente adoptadas pelas outras tradições. Muitos wiccanos também procuram cultivar um conjunto de oito virtudes mencionadas na Carga da Deusa de Doreen Valiente, que são: alegria, reverência, honra, humildade, força, beleza, poder e compaixão. Quanto à sexualidade, embora Gerald Gardner tivesse demonstrado uma aversão à homossexualidade, alegando que ela derrubasse a "maldição da deusa", agora ela é geralmente aceita em todas as tradições da Wicca, e até mesmo alguns grupos como a Irmandade Minoan elaboram a sua filosofia em torno dela, e certas figuras primordiais da Wicca, como Alex Sanders and Eddie Buczynski, sendo declaradamente homossexuais ou bissexuais.

Os Cinco Elementos

Em grande parte das tradições da Wicca, há a crença nos Quatro Elementos, representações das fases da matéria. Esses elementos são geralmente evocados durante os rituais mágicos da Wicca e nomeados ao se consagrar um círculo mágico. Os quatro elementos são: Ar, Fogo, Água e Terra, acrescido de um quinto, o Éter (ou Espírito), que une todos os outro quatro elementos. Para se explicar o conceito dos Cinco Elementos, foram criadas diversas analogias, como a da wiccana Ann-Marie Gallagher, que usava o exemplo de uma árvore, que é composta de terra (com o solo e matéria vegetal), água (seiva e umidade), fogo (através da fotossíntese) e ar (a criação de oxigénio e de dióxido de carbono), que se acredita serem unidos pelo Espírito. Tradicionalmente, no Gardnerianismo, cada elemento é associado a um ponto cardeal da bússola, sendo o ar oriental, o fogo sul, a água oeste, a terra o norte e o Espírito o centro. No entanto, alguns wiccanos, como Frederic Lamond, alegaram que os pontos cardeais foram definidos apenas visando a geografia do sul da Inglaterra, onde a Wicca emergiu e que os wiccanos devem determinar os pontos de acordo com sua região; por exemplo, aqueles que viverem na costa leste da América do Norte deve chamar água o leste e não o ocidente, porque o corpo colossal de água, no Oceano Atlântico, é a seu leste. Cada elemento também possui uma ferramenta exclusiva nos rituais, sendo a varinha para o ar, o athame para o fogo, o cálice para a água, o pentáculo para a terra e o próprio círculo mágico (ou o caldeirão) para o espírito. Cada um dos Cinco Elementos é representado por cada ponta do pentagrama, o símbolo mais utilizado da Wicca, com o Éter (ou o Espírito) no ponto mais alto.

Práticas

Ao que concerne todas as tradições wiccanas, pode-se dizer que as práticas e os rituais são o foco principal da Wicca. A pesquisadora de neopaganismo e Alta Sacerdote Margot Adler, que definiu o ritual como "um método de reintegração de indivíduos e grupos para o cosmos, e um vínculo com as actividades da vida quotidiana com o significado, muitas vezes esquecido, do presente", escreveu que os rituais, celebrações e ritos de passagem da Wicca não são "experiências secas, formais, repetitivas", e sim realizadas com o objectivo de induzir uma experiência religiosa nos participantes, alterando assim a sua consciência. Adler também notou que, embora existam muitos wiccanos cépticos quanto a existência dos deuses, vida após a morte, etc., eles continuam envolvidos com bruxaria sobretudo por conta da experiência de seus rituais. Até mesmo o Alto Sacerdote e historiador Aidan Kelly clamou que as práticas e experiências da Wicca são actualmente mais importantes que as suas crenças. Por essa razão Adler afirmou que "ironicamente, considerando os muitos pronunciamentos contra a bruxaria como uma ameaça para a razão, a Craft é um dos poucos pontos de vista religiosos totalmente compatível com a ciência moderna, permitindo total cepticismo sobre até mesmo seus próprios métodos, mitos e rituais."

Ritual

Existem muitos rituais na Wicca que são usados para celebrar os Sabás, adorar as divindades ou fazer feitiçaria. Geralmente são realizados com a lua cheia, ou durante a lua nova, que é conhecida como Esbat. Nos ritos típicos, o coven ou os bruxos solitários reúnem-se dentro de um círculo mágico. Pode ocorrer a evocação dos "Guardiões" dos pontos cardeais, ao lado dos seus respectivos elementos clássicos: Ar, Fogo, Água, Terra. Uma vez com o circulo traçado, podem ocorrer um ritual sazonal, orações ao Deus e a Deusa, e/ou feitiços à algum tema em especial. Estes ritos incluem ferramentas mágicas: como uma faca chamada athame, uma varinha, um pentagrama, um cálice, às vezes um cabo de vassoura, um caldeirão, velas, incensos e uma lâmina curva conhecida como bolline. Na maioria das vezes, o altar é obrigatório dentro do círculo, onde todas ou parte das ferramentas citadas são colocadas e, às vezes, junto a representações do Deus e da Deusa. Antes de entrar no círculo, algumas tradições se banham. Depois de um ritual terminado, os adeptos agradecem os deuses e o círculo é fechado. O círculo mágico é de suma importância para a magia e é considerado um lugar de reunião, de amor, de alegria, de verdade; na Wicca, é um escudo contra o mal e serve também para preservar e conter o poder mágico. É traçado às vezes com giz, carvão ou mesmo simbolicamente com a vareta, no chão, e pode ser considerado um baluarte que inclui figuras que correspondem ao triângulo, ao quadrado, ao pentágono, ao hexágono. Em grandes círculos, o Mago pode incluir os nomes das entidades a serem evocadas, ao passo que nos círculos menores, que correspondem aos quatro pontos cardeais, muitas vezes são postas figuras da Cabala e, no centro, mantras ou signos, cujo valor símbolo devem estar de acordo com a potência evocada. O Mago nunca deve sair do Círculo Mágico antes do término da operação e geralmente actua com as costas voltadas para o Oriente. Um aspecto sensacional da Wicca, especialmente no Gardnerianismo e na Tradição Alexandrina, e que faz parte dos elementos sexuais que são fundamentais na religião, é despir-se e fazer o ritual com todos os membros nus, prática conhecida como skyclad. A nudez indica o abandono da persona social "em face de um mistério". Outras tradições usam roupas com cordões amarrados na cintura ou até mesmo vestimenta normal. Em certas tradições, a magia sexual é realizada sob a forma do Grande Rito, onde o Alto Sacerdote e a Alta Sacerdotisa invocam o Deus e a Deusa, que se apossam deles, antes de realizarem uma real relação sexual a fim de aumentar a energia mágica da feitiçaria. Em casos mais comuns, no entanto, essa relação sexual é feita simbolicamente, usando o athame como o falo do Deus e o cálice como a vulva da Deusa.

A Roda do Ano

Os Wiccanos celebram diversos festivais sazonais do ano, que são conhecidos como Sabás; estas reuniões são geralmente conhecidas como Roda do Ano e festejam as estações anuais e as suas colheitas. Wiccanos mais ecléticos, ou até mesmo os adeptos do Gardnerianismo, celebram um conjunto de oito Sabás, enquanto em outros grupos, como o Clan of Tubal Cain, eles celebram somente quatro. Os quatro Sabás que são comuns a todos esses grupos são conhecidos como cross-quarter day, e geralmente são referidos como Grandes Sabás. A sua origem provém dos antigos celtas da Irlanda, e possivelmente de outras regiões da Europa ocidental. Nos livros The Witch-Cult in Western Europe (1921) e The God of the Witches (1933) da egiptologista Margaret Murray, interessada no histórico Culto Bruxo, ela afirma que estes quatro festivais de cristianização tinham sobrevivido e haviam sido celebrados na religião pagã de bruxaria. Consecutivamente, quando a Wicca começou a se desenvolver na década de 1930 e na década de 1960, muitos grupos, como o de Gerald Gardner, adoptaram a comemoração desses quatro Sabás descritos por Murray. Os outros quatro festivais comemorados por grande parte dos wiccanos são conhecidos como Sabás Menores, que compreendem o solstícios e os equinócios, foram adoptados somente em 1958 por membros do coven Bricket Wood, antes de influenciarem e serem adoptados por outros membros da tradição de Gardner, e eventualmente a Tradição Alexandrina e o Dianismo. Os actuais nomes desses feriados foram retirados dos festivais do paganismo germânico e do politeísmo celta. No entanto, os festivais não são de reconstrução na natureza nem muitas vezes se assemelham às suas contrapartes históricas, em vez de exibir uma forma de universalismo. As observações dos rituais podem mostrar a influência cultural dos festivais a partir dos nomes que tomaram, bem como a influência de outras culturas independentes.

Rituais de passagem

Existem diversos ritos de passagem dentro da Wicca. Talvez o mais significante deles seja o ritual de iniciação, através do qual alguém se junta à Craft e torna-se um wiccano. Gerald Gardner alegava que havia um período tradicional de "um ano e um dia" entre o momento em que uma pessoa começa a estudar o Ofício e quando ele é iniciado, embora ele tenha frequentemente quebrado esta regra. Na Wicca tradicional britânica, a iniciação somente aceita alguém no primeiro grau, e para prosseguir ao segundo grau, o iniciado precisa ir a outra cerimónia, onde se nomeia e se usa as ferramentas do ritual. É nessa cerimónia que o iniciado recebe o seu nome na Bruxaria. Ao manter o posto de segundo grau é capaz de iniciar outros no Ofício, ou fundar os seus próprios covens semi-autónomos. O terceiro grau é o mais alto e envolve a participação do Grande Rito, seja real ou simbólico, assim como o ritual de flagelação. Ao realizar esta classificação, um iniciado já é capaz de formar covens que são totalmente autónomos da sua "coven-mãe". Alguns wiccanos solitários também realizam rituais de iniciação a si mesmo, dedicando-se a se tornarem um wiccano. O primeiro deles a ser publicado foi em Mastering Witchcraft (1970) de Paul Huson, que envolvia a recitação do Pai Nosso de trás para frente como um símbolo de rebeldia contra a histórica Caça às bruxas. Posteriormente, de forma mais abrangente os rituais de auto-iniciação pagãos foram publicados em livros por wiccanos solitários como Doreen Valiente, Scott Cunningham e Silver Ravenwolf. O handfasting também é uma outra celebração dos wiccanos, e comummente é um termo usado para os seus casamentos. Alguns wiccanos observar a prática de um casamento experimental por um ano e um dia, que algumas tradições realizar deverá ser contratado no Sabbat de Lughnasadh, como este era o momento tradicional para o julgamento. A promessa de casamento comum na Wicca é "por quanto tempo durar o amor", em vez da tradicional cristã "até que a morte nos separe" O primeiro casamento wiccano aconteceu em 1960 no Bricket Wood coven, entre o bruxo Frederic Lamond e sua primeira esposa, Gillian. As crianças, por sua vez, que são criadas por famílias wiccanas, recebem o Wiccaning, que é análogo ao baptizado cristão. A sua proposta é apresentar a criança ao Deus e à Deusa para protecção. Apesar disso, de acordo com o livre arbítrio pregado pelos wiccanos, a criança não deve ser obrigada a ser adepta da Wicca ou simplesmente aderir outras formas de paganismo por simples vontade dos adultos.

Livro das Sombras

Ao contrário da Bíblia e do Qur'an, a Wicca não possui um texto sagrado, embora existam algumas escrituras e textos que várias tradições diferentes suportam como importante e influente para as suas crenças e práticas. Gerald Gardner usava um livro contendo diversos textos nos seus covens, chamado de Livro das Sombras, que ele usualmente adaptava. No Livro das Sombras, há textos retirados de várias fontes, incluindo o Evangelho das Bruxas (1899) de Charles G. Leland e obras do ocultista Aleister Crowley, que Gardner conheceu pessoalmente. Além disso, o Livro traz poesias escritas por Gardner e a sua Alta Sacerdotisa Doreen Valiente, sendo o mais famoso "Carga da Deusa". Semelhante ao uso de grimórios na magia cerimonial, o livro contém instruções de como realizar rituais e feitiços, como também poesia religiosa e cantos como o Eko Eko Azarak a serem usados durante os rituais do mago. A verdadeira intenção de Gardner era que cada cópia do Livro fosse diferente, porque o aluno teria uma cópia própria da que fosse dos seus iniciadores, mas entre muitos adeptos do Gardnerianismo, todas as cópias são mantidas idênticas à versão que a Sacerdotisa Monique Wilson copiou de Gardner, sem alterar nada. Hoje em dia, os adeptos adoptaram também o conceito de Livro das Sombras, com muitos solitários mantendo as suas próprias versões, feitiços, práticas, por vezes com material retirado da publicação do Livro das Sombras garderiana. Em outras tradições, no entanto, as práticas nunca são escritas em livro ou papel algum, significando que para elas não há necessidade de um Livro das Sombras.

Símbolos

Os diversos símbolos na Wicca são a linguagem criadora que expressam o que "não pode ser dito claramente". Algumas tradições utilizam o símbolo de uma mulher pisando numa serpente ou um homem derrotando um dragão, símbolo da dominação ou da vitória diante das vontades fracas, e que pode ser um símbolo análogo às imagens católicas de Nossa Senhora de Imaculada Conceição e de São Jorge. A serpente representa a ambivalência de toda manifestação e é maléfica sobre a aparência de Tífon e de Piton ou também pode representar sabedoria, como indica o seu nome grego Ophis, anagrama por uma letra da sabedoria, Sophia. Além desses, existem muitos outros símbolos, como o da Mãe Tríplice, também usada no Dianismo e no neo-Druidismo, baseada nos escritos de Robert Graves, retratando as três faces da Deusa: A Donzela, a Mãe, e a Anciã. A Donzela representa encantamento, criação, expansão, a promessa de novos começos, nascimento, juventude e entusiasmo juvenil, representada pela lua crescente; a Mãe representa maturação, fertilidade, sexualidade, respeito, estabilidade, poder, vida e é representada pela lua cheia; A Anciã representa a sabedoria, o repouso, a morte e terminações, e é representada pela lua minguante. Outro símbolo menos usado nas tradições da Wicca mas bastante constante nas outras formas de neopaganismo é a Estrela de David, a estrela de seis pontas.
O pentagrama, a estrela de cinco pontas, por sua vez, é um outro símbolo, mais utilizado pelos wiccanos que a Estrela de David e praticamente obrigatório na maior parte das tradições wiccanas. Este não é exclusivamente Wicca; o pentagrama era o signo secreto dos Pitagóricos. Embora haja distinção entre a doutrina exotérica de Pitágoras e a esotérica, dirigida aos iniciados, pode-se dizer que tanto para um quanto para outro o pentagrama é uma indicação da vida e da inteligência e para os Wiccanos simboliza ainda os quatro elementos acrescentado do Espírito, no ponto mais alto do ângulo. No entanto, no Satanismo, e exclusivamente nele, invertido ou com uma representação de um bode negro o pentagrama simboliza o mal. Agora, na Wicca, ao que concerne de uso mais pessoal e individual, existem os talismãs, que garantem aos magos a prevenção contra os eventuais "Choques de Retorno". O talismã não pode ter na sua fabricação um elemento de fetiche (como os amuletos) mas um elemento natural: ossos, pedras, dentes, conchas, etc. O talismã não protege, como o amuleto, contra todo mal, senão apenas contra tal ou qual influência determinada em tal ou qual caso. A sua virtude apoia-se em quatro elementos: a) o momento da sua criação; b) a matéria de que é feito; c) as figuras que comporta; d) as inscrições que nele estão gravadas. A crença na sua influência depende de seu material, mas sempre é lógica e simbólica: se o talismã suporta rubi, por exemplo, imediatamente terá conexões com Marte. O Pantáculo, por sua vez, é a forma mais evoluída de talismã e procede da ideia de um objecto que contém o todo, que resume o todo, que é a síntese do macrocosmo.

Preconceitos à Wicca

O pentagrama invertido e com o bode negro, usado na Igreja de Satã, tem levado a muitos identificarem incorrectamente os wiccanos como satanistas. A Wicca surge num país predominantemente cristão e desde o seu início sofreu preconceito de alguns grupos de outras religiões e de tablóides populares como o News of the World. Esse tipo de preconceito continua nos dias de hoje, com alguns cristãos dizendo que a Wicca é uma forma de Satanismo, apesar de existir uma grande diferença entre as duas religiões. Os wiccanos, por exemplo, não crêem em Lúcifer ou em Satã, tão pouco na vinda de um deles à Terra. Devido à conotação negativa associada à Bruxaria moderna, muitos wiccanos mantém as suas práticas em sigilo, ocultando a sua fé por medo de perseguição. Por conta disso existe a brincadeira entre wiccanos de "sair do armário de vassouras", ou seja, revelar-se socialmente que se é wiccano. De acordo com a história da Wicca dada por Gerald Gardner, a Wicca é uma religião sobrevivente do Culto Bruxo que ocorreu na Europa, e que foi largamente perseguida durante o que os historiadores denominam "Caça às Bruxas" porque evidenciava um deus cornífero mas não o Diabo. Modernas investigações académicas revelaram, no entanto, que tais perseguições foram substancialmente menores do que as indicadas por Gardner e raramente a mando de autoridades religiosas. As teorias de um culto bruxo europeu organizado, bem como julgamentos de bruxas em massa, também têm sido amplamente desconsideradas por alguns académicos, mas ainda assim os wiccanos sentem solidariedades com as vítimas das perseguições de bruxas durante a Idade Média e o Renascimento.

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